quarta-feira, junho 09, 2010

ENTREVISTA: A serviço do Inventor de corações

Ao escolher o caminho da música para expressar o que sentia e pensava, um adolescente tímido e cheio de complexos se torna um verdadeiro fenômeno na internet. O jovem evangélico de Maringá (PR), Henrique Cerqueira, é o fundador da banda Pimentas do Reino, cujas canções – todas de sua autoria – somam mais de 15 milhões de acessos no Youtube e são recordista em downloads. E como diria um antigo personagem, foi tudo sem querer, querendo. De MSN em MSN, as canções caíram nas graças de adolescentes de Maringá, que criavam vídeos para seus namorados e postavam no Youtube. No Brasil inteiro, românticos assumidos passaram a fazer o mesmo. Todos buscavam saber quem era o compositor que tão bem falava sobre as coisas do coração. Entre elas, a cantora secular baiana Cláudia Leitte, que encontrou a canção Pensando em você na net, procurou Henrique e gravou a canção. De lá pra cá, Henrique Cerqueira foi procurado por uma gravadora evangélica e se prepara para o lançamento de seu primeiro CD solo.

Você foi criado sob os princípios cristãos?
Sim. Meu pai era presbítero da igreja presbiteriana Renovada. Mamãe e ele trabalhavam com crianças e adolescentes e sempre organizavam Escolas Bíblicas de Férias. Cresci ouvindo as histórias bíblicas e cantando sobre Jesus.  Graças ao exemplo de meus pais, busquei minha própria experiência com Deus, e isso aconteceu quando completei 17 anos. Cheio de complexos, perguntei para Deus se Ele existia mesmo. Ele me respondeu.

Como se interessou por música?
Meu lar sempre foi um lar musical. Meu pai, que é violonista, sempre fez duetos com mamãe na igreja. Acordávamos ao som de Vencedores por Cristo, Grupo Logus, Mara Lima, Luís de Carvalho e por aí vai. Aos 17 anos fui convidado a participar da Jocum (Jovens com uma missão), onde recebi o desafio de integrar o grupo de louvor. Comecei então a cantar. Foi um momento muito especial na minha vida. Comecei ali a compor louvores e depois escrever também canções românticas.

E como surgiu a banda “Pimentas do Reino”?
Éramos um grupo de adolescentes que cantava na igreja. Tínhamos saxofonista, pianista, tecladista, baterista e um músico profissional que nos auxiliava. Fomos escalados pra cantar em culto de domingo e vimos que precisávamos de um nome. Depois de pensarmos muito, a irmã do baterista disse: “Por que não Pimentas do Reino?”. O grupo só durou seis meses. Alguns anos depois um amigo me convidou pra gravar um CD romântico e acabamos usando o nome do meu antigo grupo de adolescentes. A “Pimentas do Reino” que as pessoas conhecem começou a existir em 2005. Decidi deixar a banda quando percebi que os demais integrantes não queriam se submeter a suas igrejas, nem contar com apoio espiritual. Queria usar a música pra evangelizar, mas o restante da banda não quis minhas idéias. A fama passou a ser mais importante que suas vidas com Deus. Decidi não trilhar esse caminho.

A ideia para o nome da banda vinha de uma vontade de fazer algo diferente do que se fazia no meio gospel?
Amamos o nome por acharmos diferente. Eu mesmo nem achei que fossemos gravar CD e sair tocando por aí. Eu só queria tocar na igreja. Eu fazia as músicas por fazer. Por gostar de compor.

E de onde vem a inspiração para as composições?
Sempre foi espontâneo. Desde pequeno fazia canções por brincadeira. Começou a ficar sério quando fiz os primeiros louvores para tocar na igreja. Depois vieram as canções pra desabafar – as músicas românticas. É sempre mais legal cantar o que vivo. Faço canções a partir de histórias que me contam, filmes que vejo, livros e textos que leio, a inspiração vem de todo lugar. Em resumo, vem de Deus.

Suas letras românticas retratam quase sempre um rapaz tímido. Você tinha mais facilidade em expressar o que sentia através das letras?
Sim, sou tímido. Antes de ter um relacionamento mais íntimo com Jesus era um adolescente problemático. Tinha problemas em me aceitar, e a timidez era forma de autoproteção. Apaixonava-me, mas por esse bloqueio, nunca me declarava. Assim nasceram as canções Pensando em você e Dom Juan. Musicava meus sentimentos para desabafar.
   
Esperava que suas canções fizessem tanto sucesso através da internet?
De maneira alguma. Nem MSN eu tinha. Deus escreve certo, mas escreve de um jeito imprevisível. Obrigado, meu Deus. O Senhor me impressiona.

Como suas canções foram parar na rede mundial?
Lançamos o CD do “Pimentas do Reino” em uma universidade de Maringá com uma plateia de amigos e familiares. Depois os membros da banda passaram a divulgar as músicas pelo MSN para os amigos. Depois criaram uma comunidade do Orkut – Coração apaixonado é bobo – com uma frase da canção Pensando em Você, que no mesmo ano chegou a 100 mil pessoas. Depois pessoas que nem conhecíamos passaram a fazer vídeos e colocaram no Youtube. Em 2006, as canções somavam 10 milhões de visualizações. A canção Saudade, por exemplo, tinha um milhão. Estávamos sendo divulgados por anônimos. Fora do mercado tradicional.

A maioria das pessoas conhece mais suas canções românticas. Você pretende investir em louvores evangelísticos?
Sim. Hoje tenho 197 canções e 55 delas possuem temas exclusivamente espirituais. Na juventude sonhava ser como o Asaph Borba ou João Alexandre, mas Deus tem traçado meu caminho de forma diferente. Quero mostrar Jesus numa faceta romântico-amorosa. Falar de um Inventor de corações detalhista e apaixonado. Falar do amor de Deus para as pessoas. Todos se sentem carentes de amor, todos têm desilusões, todos se sentem frágeis nesta área de suas vidas. Quero ser um instrumento de Deus para estas pessoas.

A cantora secular Cláudia Leitte o procurou com interesse em gravar a canção Pensando em Você e fez sucesso com ela. Como se deu isso?
Em 2006, alguém passou a música para um irmão da cantora. Ela gostou muito, e me procurou por telefone. Disse perceber que eu era Cristão por ter encontrado composições minhas feitas para Jesus. Fez questão de dizer que não era adepta do Marianismo e acreditava na única mediação de Jesus. Ela mostrou ter um caráter ilibado e foi muito amiga. Orei, senti paz e pensei: Seja feita a vontade de Deus entre pessoas que não servem à vontade de Deus. Foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida. Por causa da Cláudia, vim morar no Rio de Janeiro. Ela me deu muita força. Animei-me a ir atrás de gravadoras por causa do incentivo dela. E aconteceu. Em 2009, a MK Music me convidou a integrar seu cast. Hoje corro atrás desse sonho com muito mais fervor.
Qual seu conceito de música romântica?
Tudo me é lícito, mas nem tudo me convêm. Nem tudo edifica. É preciso julgar, filtrar o conteúdo de qualquer texto, canção ou filme. Segundo Jesus, se os olhos, que são a luz do corpo, não absorverem coisas que edificam, nos enfraquecemos e logo nos contaminamos. Há canções cantadas por não evangélicos cujo conteúdo não agride a Palavra. Que esposa não se sente edificada com uma demonstração de romantismo verdadeiro?  Mas quando a canção não está em conformidade com os valores de Jesus, é preciso refutá-la. Como cantor e compositor, meu objetivo é fazer canções que agradem a Deus, sejam elas românticas ou não.
E o que acha de cantores gospel investirem nesse "mercado"?
Acho ótimo! A Bíblia é cheia de romantismo e poesias (Eclesiates, Cantares, Apocalipse, Oséias, Gênesis, Efésios). O povo de Deus deve resgatar essa temática. Temos muito conteúdo. Servimos há um Deus que é amor. Há muitíssimos temas a serem trabalhados. Muita gente pode ser ajudada. Imagine canções para trazer esperança a quem pensa em divórcio, à alguém que perdeu o seu ente querido, para ajudar a pedir perdão, auxiliar na vida sentimental. Caetano e Gil são importantíssimos na história da música Brasileira e nunca esconderam sua simpatia pelo candomblé. Roberto Carlos e Chitãozinho e Xororó são católicos fervorosos, talvez seja chegada a hora da música que vem do coração de Deus sair das quatro paredes do mercado fonográfico evangélico e ganhar o Brasil. Isso já acontece nos Estados Unidos com bandas como o P.O.D, Switchfoot e Michel W. Smith. Temos Aline Barros interpretando canções novela, temos músicos importantes como João Alexandre mostrando que dá para ser espiritual, político e natural ao mesmo tempo. Busco seguir a direção de Deus. Se essa for à vontade dEle é o que acontecerá.

Conte como será seu primeiro CD solo.
Demorou quase um ano pra sair. Trouxe 73 canções minhas para gravadora, de onde restaram as 12 escolhidas. Um CD bem romântico e bem para cima. O “Pimentas do Reino” foi um começo inesperado para mim, agora sei onde quero chegar e nada vai me deter.
Sua expectativa é que ele aconteça mais no meio evangélico ou que siga o percurso de suas canções na internet atingindo a massa?
Minha gravadora é especializada no mercado evangélico, então as primeiras repercussões vêm de evangélicos. Mas canções românticas são universais, podem ir para onde quiserem.
 
Deixe um recado a todos aqueles que ainda não encontram a pessoa amada.
Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e o tudo mais ele fará!
Busque em primeiro lugar o Reino de Deus o resto vai ser acrescentado.

E aqueles que estão felizes em ter encontrado um grande amor, qual sua dica para não perder a essência do romance inicial?
Deus é romântico. Apocalipse se refere a Igreja como noiva e Jesus como Noivo. Devemos amar nosso parceiro como Cristo amou a Igreja. Cuidado com a rotina. Ao andar na perspectiva da renovação da nossa mente em Cristo, podemos ser pessoas melhores sem nos conformarmos. Não deixamos de ser interessantes. Pelo contrário. Com o passar do tempo ficamos melhores, pois estamos sempre em transformação. O alvo é a estatura da perfeição a imagem de Cristo que veio nos trazer vida espiritual abundante e isso se reflete em todas as áreas da nossa vida.

Por: Henrique Rodrigues

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